O CHEIRO AMARGO DA INSÓNIA

[vitor]

Encher-me de sazonais passos, rentes, na orla nua de madrugadas cruas um frio ausente quem sabe, um olhar cristalino no vago distante um instante qualquer descobrir a voz riscada um recado raro quem sabe, ou um eu divague entretanto uma estrela trepidante num constelado nenhum qual gesto sei lá, rega dúbia sabes, de vozes sem nome este desplante atroz como quem se sente um ar desarrumado na alma sem repentes de gritos moribundos rasgando para dentro de dentro este exterior silêncio de lábios cerrados, um dia sim sabe? A vida mordaz cessara sei lá, cessará creio nunca, como o caminho raso por sob estes descalços calços que me vestem os pés sem ninguém a nomearem-nos meus, ou que possa despir-me de sonhos um escuro perdido desta chuva arruaçada na cidade sem laços, as lágrimas enlaçadas comigo, entre mim e sem mais um espelho horizontal na esquina vazia do carro já ido, o retrovisor da distância no escape engolido de cheiros e noites e vomitadas ausências sei. Não durmo. Não adormeço há dias sinto, sinto na esfinge destas falanges inchadas o cheiro amargo da insónia, queria sabes, queria mesmo um sono que me arrumasse para dentro até nem mais, que me levasse num ritmo sem melodias um desfecho que fosse, badalos e sinos, rosas e crostas a decorarem o fim da casa ou rua ou sina, vieras ou não que importa à porta certa se não há como, que realidade se abrirá desta sei lá janela de espelhos içados num ventre vendido de fingido silêncio onde te vejo, olhos eriçados ameaçando valência, rentes à vida que a curva disfarça, de sombreio um recreio amputando uma voz veloz que se cala.