A rapariga que era poesia e romance. Era uma vez a menina de vestido cor-de-rosa, elegante, linda, brilhante. Vivia num mundo sem igual. Regional, no qual cada reino era assinalado pelas flores, rosas, tulipas, malmequeres, camomilas, dálias, jóias, safiras, rubis, esmeraldas que lhes eram inerentes. Além de magnÃfica era paisagem de labirinto, um rito divino que pulverizava as árvores de Éden, vibrando-as, após uma clarabóia de lampejos, aparições de outro Universo, centelhas do criador. Não era efeito de Igreja, adorno de insÃgnias, forro de gemas, Purgatório ou Inferno. Era misteriosa. Suponho que sustinha um nimbo e nascera rodeada de anjos, na harmonia cordial de uma harpa. Refiro-me ao sagrado sem mencionar o que sou. Não me pareço a tálamo de ondas, de nuvens ou fantasia, a L.Of.C., a tal criança Ãndigo. Irei reduzir-me à narração do tal dédalo que não tricotando perfeitamente cruza mão e agulha. Se fosse alfinete, seria diferente, diz-se que o azougue o atrai ao coração, o que seria fatÃdico, um cato.
Não vejo o Sol, nem Marte, escrevo impulsionado pelo insensato idealismo da escrita medrar, de cada uma das pontas − escrito e arte – se congregarem. Confio na menina vestido cor-de-rosa, servil. Sinto que sou meritório de calibrar a palavra emoções. Possivelmente necessito de inspecção, de um selo, de imposto de circulação. Já ranjo os dentes. Oiço o meu coração a engripar como um batoque de tachos. Era uma vez a rapariga que era poesia e romance, um rito divino que pulverizava as árvores de Éden.
Um sonho sonhador. Alguém que a par do devaneio do mundo fantasia. Não a conheço pessoalmente. Mas as suas palavras sim. E quem sou eu para ousar criticá-la quando as letras são lagos prosternados perante a sua mente naquele meio, da mesma maneira que o café se mistura com o açúcar numa preciosa chávena de porcelana à mercê de uma colher de prata?
Quem sou? Quem és? L.Of.C.? Não procuro uma relação, uma mágica fórmula matemática que simultaneamente me responda. Nem pretendo misturar as duas personagens, já que não como o café, como o cão e o Homem, eu e Tu. Não ambiciono a mais azarenta roleta de casino, nem o tostão distribuÃdo à sopa da solidariedade, liminarmente conto a história de alguém que nunca divisei, que era lume e palavras, poesia e romance, a menina de vestido cor-de-rosa.