Oswaldo Eurico Rodrigues
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Amo a Literatura e as artes.
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« em: Dezembro 01, 2016, 17:19:56 » |
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Cama de gato
Já se foram dez anos de inauguração da Galeria Heitor dos Prazeres. Com dez dedos tecla-se e congela-se ideia e memória de arte, de ofÃcio, de gente... São dedos que riscam, rabiscam, pintam sete, oito, dez anos... Outras tantas mãos se juntaram e se juntam num entrelaçar de fazeres. Uma verdadeira teia cooperativa de saberes. Novamente as mãos que experimentam e distribuem conhecimento, se unem na materialização de pensamentos e criam o alimento do olhar e da interação. Na exposição “Cama de gatoâ€, a instalação única, composta de tiras retesadas de elástico nos remete a teia de possibilidades no viver de cada um de nós. Como se flexibilizar e esticar as oportunidades é a proposta interativa que o visitante irá encontrar. De forma a explorar as capacidades de cada um, a cama de gato está armada. Deitar nessa cama é impossÃvel. Ela instiga o visitante a desbravar, a interagir num caminho branco onde as cores são pisoteadas. Algo lúdico a princÃpio, porém inquietante e nada confortável dadas as possibilidades aparentemente limitadas de cada um. E o percurso nessa cama-teia-balaio-de-gato-ninho-de-cobras pode exigir certo esforço dos menos ágeis ou sedentários. Todavia nada comparável ao dia a dia dum cidadão desta terra na caminhada dificultada pelos sobe-e-desce nas mal conservadas vias de acesso aos sonhos. Um caminho de tropeços na burocracia onde, para se comprar comida, é preciso esticar o orçamento e esticar mais e mais para se cobrir o corpo. Retesando-se as cordas da opressão tenta-se obter energia para vencer obstáculos e fazer música para sossegar a alma. Não raro, a orquestra desafina, atravessa-se o samba. Gritos e revolta. A cama de gatunos está em cima de nós como uma rede de malhas finas especial para capturar todo tipo de peixe ou outros bichos. Menos os tubarões, os abutres, cobras venenosas, lobos e raposas, todos especialistas em consumir e destruir quem os sustenta.
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