Figas de Saint Pierre de
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« em: Setembro 26, 2009, 14:14:15 » |
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É impressionante como nada, ou quase nada muda. Por isso estamos, cada vez mais, na cauda da Europa. Para leitura... "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta e nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da lama nacional - reflexo de astro em silêncio escuro delagoa morta(...)
Um burguesia, cÃvica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens, que honrados (?) na vida Ãntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na polÃtica portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosÃmeis no Limoeiro (...) Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do paÃs, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbÃtrio da PolÃtica, torcendo-lhe as varas ao ponto de fazer delas saca-rolhas; dos partidos (...) sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e prevertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como metades do mesmo zero. E não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no Parlamento: de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar." Guerra Junqueiro in PÃTRIA, escrito em 1896.
Para completar, aqui vai uma notÃcia, publicada num jornal diário do Porto, em 21 de Janeiro de 1941, (45 anos depois) que ilustra bem o avanço do progresso nacional, já sob a batuta de Salazar: Assistência de Inverno a Desempregados no Rio Douro:
De 1 a 18 do corrente, distribuiram-se pelos desempregados inscritos na benemérita Assistência de Inverno no rio Douro 6.300 sopas e 1.575 quilos de pão? Nota: Hoje as sopas têm outro nome, mas a miséria é a mesma para 1/3 da população. Posto isto, não digo mais nada.
Silvino Taveira Machado Figueiredo, Gondomar publicado no Expresso em 08 de Abril de 2008
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