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Hoje
dia importante
formosas são as palavras
numa foz desconhecida
desconhecendo fontes
e de jardins nossas fragrâncias
que espoletam ânsias
de levar a noite a casa
aguardando nova foz
para ti, para mim, para nós
hoje; dia importante
a noite é de deita
nela semeamos grãos
depois, os dois faremos colheita

Será um dia importante
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Vozes;
voos de fantasia
volteando em vindimas de vivas
dadas por vilões citadinos ao seu rei
que dorme e em sonhos voa

Quando acordou, não tinha joias nem coroa

Veio à janela, ver sua grei, em manifestação
a quem gritou;
-“Roubaram-me joias e a minha coroa!
Quem foi? Quem foi?”

-“Não sabemos, não sabemos
Estamos aqui, porque pão ou broa
É o que queremos e tu és o nosso rei”

-“Mas, sem coroa e joias não sou vosso rei”
-“Disso saber não queremos
Joias não comemos”

Coitado do rei, ficou sem grei!
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

                                                                Hipótese nº51

Pedem crenças, de danças
nas areias, para curarem doenças
e de poços tiram versos
para milagres diversos

Mas, de repente
o corpo, que trabalhou, debalde
nada alcançou, apenas
ficaram excedências de palavras
preenchendo o vago do falar sozinho
metendo-se entre portas

Depois da chegada
descansando olhos, para dormir
e, depois, em sonhos
novos mundos descobrir
para acertar o puzzle
da anarquia do dia
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Cada passo que dou
no tempo mais um espaço
sem saber aonde vou
no espaço de cada passo

Olho para trás
para ver se lesto, se devagar
se preciso de correr
ou parar para descansar
Caminho, sempre, em frente
no caminho dou muito tombo
e penso já não ser gente

Ao saber que o mundo é redondo
pergunto-me:
que adianta ir em frente?

Nisso penso e outra vez tombo

Quando me ergo e outros passos dou
do mundo nada percebo
nem sei já o que sou
num caminho em que sou cego
e me pergunto:

Quem me cegou?
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Hoje, saí de casa
como homem duma só homilia
levando-me em homens vários
com um mapa do universo
e muito chá de tília
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Hipótese nº48

A cada dia
no seu términus
a noite faz-lhe o funeral

As estrelas vão ao seu velório
num fúnebre ritual

Depois, enterram o dia no escuro
e na sua campa
numa noite fria
põem-lhe uma aurora como tampa

Depois, nascem lírios brancos
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Hoje
não sei o que ganhei nem o que perdi

Hoje
quando acordei
estava tudo no seu lugar
o Sol, Terra e Mar

Viver é um contínuo perder
com ilusão de se ganhar
no balanço final
ficamos com auroras
de poemas a haver;
poemas dum sempre perder
com ilusão de se ganhar

Ganha-se juventude
perde-se infância

Ganha-se ambições
perdem-se ilusões

Ganha-se a vida
perde-se na morte

O Sol
Terra e Mar estão em seu lugar

Até o Homem
no seu imaginar
de auroras e poentes
do sempre
num perder permanente
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

A noite
aprisionou a claridade do dia
fechou-a na clausura da escuridão
depois
durante o trânsito das estrelas
espirrou, e
pelo nariz
saiu-lhe uma aurora matinal
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Quando me desvio do meu amor
logo me sinto em rota perdida

Só no regresso
ao seu porto de amor chegar
é que me sinto seguro
com seu amor; âncora
no navegar da minha vida
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque

Fios de seda
bordam cestos de desejos
e pombos rasam superfícies

Desejos, os desejos emergem
por pombos agarrados
levados por ares
de montanhas e planícies

Desejos que ficam
nas bordas de cestos
presos a fios de seda, esperam
que alguém os corte e os leve
Fios de seda podem ficar nos cestos
a baloiçar, porém, os desejos
devem, sempre, ficar a voar

Não matem pombos

Destruam pombais e cestos
para que sonhos não regressem
e fiquem, sempre, a voar, a voar
num permanente alar, alar
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Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque