josé antonio
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escrever é um acto de partilha
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« em: Março 01, 2009, 17:19:33 » |
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Era um Fiat 128, cor creme. Assim entre o ovo estrelado e a omoleta. Mas lindo, porque brilhava quando ao sol e enjoava quando coberto pelo pó e morrinha. Adquiri-o depois de obtido o brevet para o pilotar, porque ele não andava, voava e por vezes sem poisar muito bem na estrada. Adiante. Quando o comecei a pilotar, sempre nas horas de ponta, para os da minha idade, éramos discriminados com o “ovo estreladoâ€, dÃstico com a inscrição da velocidade máxima a que os pilotos estagiários podiam circular – 90 km/h. E tal era motivo de total chacota e disputa de velocidade ao ponto de gerar provas de velocidade entre nós, estagiários e os seniores da estrada, sem se atender à viatura, ao piso. A nada. Apenas ao ficar na frente para dar o exemplo. Dos muitos casos que aqui não vou narrar, recordo apenas um em que um sénior da condução, me começou a buzinar quase colado à traseira do meu bólide. Como resposta natural e mais tarde considerada estúpida, também acelerei. E o duelo prolongou-se por cerca de uns três quilómetros repletos de adrenalina como a que os pilotos de F1 mostram no interior dos seus carros pelas câmaras que metem em todos os cantos da viatura, até ao momento de eu ter de mostrar ao campeão, que o tÃtulo era meu. E dando-lhe espaço, encostei á berma para o parar e ajustar contas. Ali mesmo. Desse para o que desse. Então, ele saiu, e da forma mais educada possÃvel, informou-me que eu tinha largado um tampão duma das rodas há cerca de quatro quilómetros atrás. Sem comentários. Depois seguiu-se a série dos pequenos arranhões da pintura. Do velhote da motorizada, que distraÃdo pelos atributos da miúda no passeio se deixou tombar, sobre a traseira do meu carro, o vendedor de pianos, que se calhar ainda embalado pelas melodias da véspera meteu as portas dentro, o turista que pensou caber a meu lado e não coube e muitas outras. Como a maioria deste contratempos eram da minha autoria, integradas no tempo de estágio após obtenção da carta para conduzir, e para não parar a viatura, optei por me abastecer no supermercado, para cada novo arranhão de um spray à cor, por causa da maldita ferrugem não atacar a linda pintura de origem. Lamentavelmente e por mera culpa das marcas ou do fabricante dos sprays, nunca consegui acertar com a tonalidade dos mesmos e então ao fim de cerca de um ano, o meu querido Fiat 128, tinha tantos tons de creme que pouco conservava do creme original. Pragmático como me prezo de ser, tomei a decisão radical para o problema: nas férias de Verão, rumei ao Algarve de comboio e deixei-o para uma pintura geral que tapasse todos aqueles tons de creme que faziam dele um autêntico chaimite camuflado para qualquer teatro de guerra. Cor escolhida: verde cor de garrafa, única em meu entender capaz de encobrir os cremes imensos e dar-lhe um ar presidencial. Quero dizer. Perto disso. Quando regressei de férias, o fui levantar à garagem e apareci no dia seguinte na empresa, todos o admiraram. Passados alguns meses vendi-o porque o verde estava a resistir aos riscos e amolgadelas como o anterior creme. Sempre com tonalidades diferentes. E comecei a utilizar só a cor preta nos carros que tenho adquirido, mas que também têm um problema no acerto do spray: - mate, meio brilho ou brilhante.
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