Pedro Ventura
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« em: Dezembro 09, 2010, 20:50:27 » |
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Durante a semana, os dias de Lurdes eram um verdadeiro corrupio. Levantar, acordar as crianças (se não fossem elas a acorda-la primeiro), prepara-las para o infantário, deixar o pequeno-almoço para o marido que acordava mais tarde (o seu estatuto na empresa conferia-lhe essas benesses), meter as crianças no carro, com mais ou menos dificuldade, dependendo dos humores matutinos dos petizes, e, só depois, parecendo que já tinha um dia de trabalho em cima, é que ia para o escritório. Aà colocava-se sempre o mesmo problema: estacionar o carro. Voltas e mais voltas ao quarteirão, inspeccionando cada palmo de espaço livre, onde coubesse a viatura, ainda por cima grande, por causa dos meninos. Estacionado o carro, subia ao seu escritório onde exercia advocacia, sentava-se na sua cadeira e, por breves instantes, parecia que recobrava da estafa rotineira. Com esta roda-viva diária, certo dia olvidou-se do vidro do carro do lado do pendura completamente aberto, totalmente à mercê dos amigos do alheio. No fim do dia, mete as mãos à cabeça quando vê que lhe faltavam os óculos escuros, um computador portátil que tinha no banco de trás, e todos os documentos que tinha no porta-luvas, ou seja, tudo o que se pudesse despachar na candonga. Com isto, vê que já eram horas de ir buscar as crianças ao infantário. Fica desaustinada e sem saber o que fazer. Liga ao marido. - Assaltaram-me o carro! Levaram tudo! – diz-lhe. - Vai já à polÃcia apresentar queixa. - Tenho de ir buscar as crianças Jorge e essas burocracias devem demorar!.. - Liga para o infantário e diz que vais demorar mais um bocadinho. Sabes que eu não posso sair a esta hora, ainda tenho uma reunião… - Ok! Adeus! – diz-lhe irritada. E assim fez. Ligou para o infantário e dirigiu-se à esquadra que por sorte era no quarteirão seguinte. - Queria apresentar uma queixa, assaltaram-me o carro, até o computador portátil me levaram, tenho lá tantos documentos importantes… E tenho as crianças para ir buscar ao infantário… - Calma minha senhora!.. Diga-me lá o seu nome! - Lurdes da Silva Bello. - Humm, muito bem! – diz o agente calmamente, e ausenta-se por segundos – Hoje é o seu dia de sorte Sra. Lurdes! - O meu dia de sorte?! Se lhe estou a dizer que me assaltaram o carro, que tenho as crianças à minha espera no infantário, como é que me pode dizer que hoje é o meu dia de sorte?! – diz com alguma rudeza no tom de voz. - Passo a explicar. Hoje logo cedo apareceu-me aqui uma senhora e entregou-me uma série de coisas. Uns óculos escuros, um computador portátil, documentos… Disse-me que viu a janela do seu carro aberta e que por consciência própria decidiu recolher tudo o que de valor estava à mostra e depois veio aqui entregar, sabendo que seria óbvio a senhora vir aqui apresentar queixa. Olhe que teve muita sorte, apanhou uma pessoa de bem… Olhe que isto hoje é uma em mil!.. E ainda correu o risco de ser apanhada em flagrante por si e depois ser acusada injustamente, quando no fundo só queria fazer uma boa acção. - É verdade… - Suponho que tudo isto seja seu! Lurdes respirou de alÃvio quando o agente lhe apresentou os seus pertences. - Sim, sim! É tudo meu! Realmente tinha razão, hoje é o meu dia de sorte. Lurdes agarra nas suas coisas e quando ia a sair à s pressas o agente diz-lhe: - Quer agradecer à senhora?! Ela deixou aqui o contacto… - Claro que sim! - Volta atrás agarra no papel com o número rabiscado e sai apressadamente – Muito obrigado! Vou-lhe ligar sim, mas primeiro vou buscar os meus filhos ao infantário.
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